FOLHA EM BRANCO
Será que, às vezes, a gente se
dá tanto a outra pessoa que
chegamos a desaparecer? Será que
quando enviamos um torpedo, um
bilhete, um telefonema, que
nunca é correspondido, será que
é assim que a gente vai se
perdendo? Será que é assim que
tudo se acaba? Ou nem mesmo
começa?
Ontem eu me procurei por todos
os cantos que eu costumo ir, mas
não me achei! Foi aí que eu
percebi que eu não tinha mais
nada, que foi tudo embora, que
eu não tinha mais nem eu! Mas
onde foi que eu me perdi? Em que
verbo, poesia ou esquina eu
deixei que eu fosse embora de
mim sem nem mesmo me despedir? A
janela do quarto estava aberta e
o vento me trouxe uma folha em
branco. A folha sorriu pra mim
com seu sorriso imenso e branco.
Ela disse que sim, que me
entendia: ela mesma era um
grande vazio. Mas eu não sei te
preencher, disseram meus dedos.
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